Executivo de Valor: ‘Indignação tem de vir com ação’, diz Alcione Albanesi, destaque de Empreendedorismo social com a Amigos do Bem

Alcione Albanesi, destaque em categoria Empreendedorismo Social no Prêmio Executivo de Valor

 A Amigos do Bem é um dos maiores projetos sociais do país, com 11 mil voluntários e 150 mil pessoas beneficiadas mensalmente em 300 povoados do sertão de Alagoas, Pernambuco e Ceará

Por Carin Petti, Para o Valor — São Paulo

Quando criança, Alcione Albanesi rifava os presentes de aniversário que ganhava para comprar doces. Na adolescência, trabalhou como modelo. Logo trocou a passarela pelo mundo dos negócios. Abriu uma confecção e, com 18 anos, já liderava 80 funcionários e fornecia para redes como C&A e Pernambucanas. Aos 25 anos, vendeu o empreendimento e inaugurou uma loja de materiais elétricos na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, não sem enfrentar o machismo dos comerciantes da região. “Eles falavam: ‘Dona Maria, vai lavar pratos’”, conta. Ela não se abateu e, pouco depois, fundou a FLC Lâmpadas, responsável pela primeira fábrica de lâmpadas LED do Brasil. Foi com essa bagagem que Albanesi criou a Amigos do Bem, um dos maiores projetos sociais do país, com 11 mil voluntários e 150 mil pessoas beneficiadas mensalmente em 300 povoados do sertão de Alagoas, Pernambuco e Ceará. “Da experiência como empresária eu trouxe uma visão empreendedora, uma gestão prática e eficiente, além da governança”, diz ela.

A iniciativa nasceu na temporada do Natal de 1993, quando viajou com 20 amigos de São Paulo para distribuir 1.500 cestas básicas no sertão de Pernambuco. “Vimos adultos com roupas rasgadas, crianças sem ter o que vestir, sem água e sem comida, vivendo em casas de barro”, recorda. “Foi uma indignação e, como digo até hoje, indignação tem que vir com ação.”

Veja mais sobre o Prêmio Executivo de Valor recebido por Alcione Albanesi

E suas ações, inicialmente com foco em doações, ganharam corpo ao longo dos anos. Atualmente, a ONG Amigos do Bem atua em diversas frentes. Na educação, mantém quatro escolas e centros de convivência com atividades extracurriculares, reforço escolar e cursos profissionalizantes. Oferece também bolsas de estudo para o ensino superior. No campo da saúde, realiza atendimentos médicos e odontológicos. Também investe na construção de moradias, cisternas e poços artesianos. No eixo de geração de emprego e renda, a organização tem 15 unidades produtivas, como fábricas para processamento de castanha, de produção de doces e oficinas de costura, além de oferecer microcrédito.

À medida que crescia, a organização começou a exigir dedicação exclusiva de Albanesi. A saída foi vender, em 2014, a FLC Lâmpadas, na época com 38% de participação de mercado e faturamento em alta de 30% ao ano. “Eu assinei a venda chorando, mas era o que eu queria fazer.”

Desde então, passa todo mês pelo menos dez dias no sertão. No comando da ONG, ela diz fazer questão de ouvir os responsáveis por cada área. “Coloco as decisões na mesa para que me mostrem onde posso estar errando ou qual o melhor caminho”, afirma.

Nomes de peso no conselho da ONG também colaboram. “A Claudia Sender tem nos ajudando nos caminhos de marketing, a Luiza Helena Trajano faz a ponte com contatos, dependendo da nossa necessidade, e o Jorge Faiçal, que era presidente do GPA, acompanha a área de geração de renda”, exemplifica. “Quero no conselho pessoas realmente envolvidas com o projeto, que atendam o telefone quando eu ligo.”

Ainda assim, alguns tropeços são inevitáveis. Foi o caso, por exemplo, da compra de 500 cabras para produção de leite – todas mortas de sede com a falta de água no sertão.

“A gente errou muito, mas acertou muito mais”, diz. Para continuar com a equação positiva, a cobrança é grande. “Tenho um nível de exigência muito alto, a começar comigo mesma.” E reforça: “O deixa-para-lá não ajuda no crescimento profissional. Corrigir a equipe dá trabalho, mas é necessário”. Porém Albanesi diz que também enaltece cada trabalho bem-feito.

Pelo seu projeto, o Pacto Global da ONU lhe conferiu o primeiro título no Brasil de liderança de impacto do ODS 1, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável que trata da erradicação da pobreza.

 

Fonte: Valor Econômico