A CONSTRUTORA DA ESPERANÇA

Como a empresária Alcione Albanesi abriu mão de sua fortuna e convocou toda a família para transformar — e melhorar — a vida no sertão nordestino

Por Antônio Carlos Prado e Mariana Ferrari publicado em Istoé - 14/05/21 - 09h30

Há um ditado, sempre mais comum quanto mais aumenta a miséria de um país, a dizer que o certo não é dar o peixe ao pobre mas ensiná-lo a pescar. Assim, esse princípio serve muitas vezes para justificar a misantropia e o egoísmo de quem não quer ajudar aos necessitados de alimentos, água, educação e saúde — aos carentes de tudo isso, e aos precisados também de um abraço. A psicóloga, empresária e empreendedora social paulista Alcione Albanesi, fundadora da ONG Amigos do Bem, combinou razão e coração, fé e coragem, ecumenismo e determinação. Colocou o pé na estrada e inutilizou tal provérbio com uma única pergunta: “Como ensinar a pescar se o rio está seco?”. No caso de Alcione, o rio ao qual ela se refere não funciona como metáfora ou força de expressão, é rio seco mesmo. Trata-se do Nordeste brasileiro, o semiárido mais populoso do mundo e um dos mais sofridos. É a essa região que a Amigos do Bem dedica o seu trabalho desde 1993, quando foi fundada. Nunca se viu nada igual no Brasil. Na terra arrasada do sertão, Alcione e toda a sua família criaram quatro cidades em três estados: Pernambuco, Alagoas e Ceará. Cuidam de cento e quarenta povoados. Têm sob o seu zelo, mensalmente, setenta e cinco mil pessoas. Montaram escolas, postos de saúde, poços artesianos e os denominados “centros de transformação”, que envolvem oficinas de trabalho, cursos, palestras, aulas de alfabetização. Ou seja: a família Albanesi proporciona duzentos por cento aos desvalidos sertanejos nordestinos. E, repare-se, ao seu estilo dotado de empatia, não está deixando de ensinar a pescar.

Agora, leitor, respire fundo. Alcione, para fazer o que faz, abriu mão de toda a sua fortuna, fortuna de quem chegou a ser a maior fabricante de lâmpadas de LED no Brasil, a marca FLC — com direito a setenta e uma viagens à China, onde foi dona de sete fábricas, para aperfeiçoar o seu negócio. “Não penso no quanto de dinheiro que eu perdi. Penso no quanto de vida que eu ganhei”, diz ela. “Como mulher, dei muito mais braçadas para alcançar o sucesso, principalmente no ramo de lâmpadas, que era predominantemente masculino”. Os que vêm para o mundo com a missão de fazer o bem, vêm carregando na alma um “contrato com Deus”, como define a própria Alcione. Missão é missão, parece que começa de forma aleatória. Não foi diferente com Alcione. Quando criança, sentava-se sobre caixotes no Ceasa, em São Paulo, e azucrinava os ouvidos dos feirantes até que eles lhe dessem verduras ou frutas que ela levava a carentes. Cresceu na idade, cresceu na altura, cresceu largo e profundo no coração.

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